domingo, 1 de julho de 2012

Processo de Enfermagem: reflexões de auxiliares e técnicos de enfermagem

Processo de enfermagem: reflexões de auxiliares e técnicos de enfermagem O Processo de Enfermagem consiste em um instrumento tecnológico empregado para favorecer o cuidado. Sexta-feira, 2 de janeiro de 2009 RESULTADOS Participaram, como sujeitos da pesquisa, 10 auxiliares e um técnico de enfermagem, esta diferença aconteceu porque na instituição somente as unidades de maior complexidade possuem técnicos de enfermagem contratados, sendo que nas quais não foram convidados os sujeitos a participarem da pesquisa. Os informantes tinham, em média, 39 anos de idade e 15 anos de profissão, sendo oito anos, em média, de trabalho no HCPA. Quanto à formação acadêmica, cinco possuíam formação parcial ou completa em nível superior, sendo dois em enfermagem. Quanto à experiência anterior com PE, 5 (45,45%) dos entrevistados já tinham contato com esta tecnologia, antes de ingressarem no HCPA. Os mesmos informaram que as enfermeiras examinavam os pacientes na admissão, evoluíam e uma delas prescrevia os cuidados para os pacientes. A partir da análise das entrevistas emergiram cinco categorias, revelando as reflexões de auxiliares e técnicos sobre o PE desenvolvido no HCPA. Amplia a visão e organiza o cuidado O PE foi considerado importante e positivo por parte de auxiliares e técnicos, ampliando a visão que os profissionais têm acerca das condições do paciente: [...] eu acho que é muito bom porque é uma visão mais ampla. Quando vejo a prescrição de enfermagem vejo como é o meu paciente. Eu vejo as orientações e sei quando devem ser feitas [...] (e2). [...] o PE dá uma visão mais ampla sobre o atendimento ao paciente, ao mesmo tempo em que permite focar algum problema ou situação específica [...] (e1). Na admissão do paciente no ambiente hospitalar, a enfermeira realiza a anamnese e exame físico, que é a primeira etapa do PE, visando conhecer o paciente, identificar suas necessidades e planejar os cuidados no âmbito de sua competência para solucioná-los ou minimizá-los. Esta investigação, também conhecida como avaliação inicial, compreende a coleta de informações abrangentes sobre aspectos que envolvem a saúde da pessoa, bem como dados para determinar a situação de uma condição específica,10 que pode tanto estar relacionada a aspectos biológicos, como emocionais e sociais. Por isso, durante o atendimento deve-se considerar o contexto no qual o paciente está inserido.11 Considerando a prescrição de enfermagem uma forma de delegar tarefas, a mesma precisa ter clareza e objetividade.12 Além disso, o PE, além de influenciar na organização/otimização da assistência, facilita o trabalho do auxiliar/técnico de enfermagem ao localizar no prontuário do paciente as informações concernentes à evolução do tratamento e aos cuidados a serem prestados. Esses aspectos foram mencionados por alguns informantes Outros também manifestaram que a prescrição de enfermagem dá visibilidade ao estado do paciente, facilitando o planejamento do seu turno de trabalho. Desse modo, fica configurada a importância da prescrição de enfermagem na delegação de tarefas e na qualificação da assistência por ela realizada. Em diferentes momentos da entrevista foi possível constatar o conhecimento que os informantes possuem sobre o PE, tais como itens da prescrição e conhecimento das definições. Houve duas situações em que os informantes tinham estudado o PE no Curso de Graduação em enfermagem, embora todos demonstrassem algum conhecimento: [...] é a admissão, exame físico, prescrição de enfermagem, orientação ao paciente [...] (e9). Os informantes também relataram alguns objetivos do PE: [...] meio de organizar e otimizar o atendimento ao paciente [...] (e1). [...] faz que a coisa não seja automatizada, [...] cada paciente precisa de um cuidado diferente [...] é importante porque consegue diferenciar o cuidado para cada paciente [...] (e8). Os cuidados que constam no relato do informante e8 referem-se à prescrição de enfermagem, pois cada paciente precisa de um cuidado específico, de modo que as particularidades de cada indivíduo e as adaptações exigidas para o seu tratamento sejam contempladas em cada prescrição. Analisando os relatos dos informantes, percebe-se que suas reflexões vão ao encontro da caracterização do PE, como um método sistemático, individualizado e humanizado da assistência de enfermagem.10 Durante as entrevistas não foi citada a etapa do diagnóstico de enfermagem. Esse fato pode ter ocorrido porque nem sempre os diagnósticos constam nas evoluções das enfermeiras e também não se encontram como item obrigatório do prontuário do paciente assim, os informantes podem não ter tido acesso a essa informação. O conhecimento foi considerado como ponto positivo porque demonstra o interesse da equipe pela melhoria do paciente, visto que PE é uma metodologia científica que qualifica a assistência de enfermagem. E, como se observou, alguns informantes têm conhecimento dos itens, das características, e demonstram compreensão do PE. Em estudo anterior, relativo ao tema, foi verificado que o PE é uma forma de melhorar a assistência prestada ao paciente pela equipe de enfermagem.6 Em pesquisa recente, realizada com 70 auxiliares e 7 técnicos de enfermagem de um hospital do estado de São Paulo, os resultados mostraram que os sujeitos valorizam a SAE por acreditarem que esta metodologia confere significado e consistência às suas atividades.13 Ao confrontarem-se dados teóricos e práticos sobre o PE, verificou-se que o mesmo está se desenvolvendo de maneira adequada, trazendo benefícios, tanto para o paciente atendido, que conta com cuidado qualificado e diferenciado, quanto para o técnico/auxiliar de enfermagem que está conseguindo otimizar seu tempo de serviço, tornando-o assim mais ágil e eficiente em suas atribuições. Aproxima a equipe de enfermagem O diálogo pode ser entendido como um processo de capacitação ao possibilitar que informações sejam transmitidas e idéias sejam traduzidas em ações, um processo de compreender, compartilhar mensagens enviadas e recebidas. Existem modos diferentes de comunicação, sendo mais freqüente a comunicação escrita, a comunicação face a face ou verbal, e comunicação não verbal.12,14-15 Em alguns grupos de trabalho ocorre troca de informações entre a enfermeira e o auxiliar/técnico de enfermagem para elaboração da prescrição, assim como na etapa de anamnese e exame físico do paciente, favorecendo uma avaliação mais apurada e, aproximando a equipe. [...] A gente faz uma avaliação juntas. A enfermeira pergunta quem está com aquele paciente, daí pergunta se tem curativo, ulcera de decúbito e conversamos como tem que fazer [...] (e2). [...] tanto o enfermeiro já buscou informações quanto o auxiliar levou informações sobre o paciente, sendo que o enfermeiro foi bem receptivo [...] (e10). Partindo dos relatos, observa-se que a comunicação verbal acontece de forma adequada em diferentes ocasiões. Comunicar-se, utilizando modalidade verbal e não verbal compreensíveis e ter um ouvir atento constituem-se elementos de suma importância no processo de liderar do enfermeiro.12,16 Considerando a equipe de enfermagem como um grupo de trabalho onde as pessoas interagem, o enfermeiro é o líder por ser sob sua responsabilidade que as atividades são realizadas. Sendo assim, é fundamental que haja uma comunicação adequada, destacando-se o ouvir atento e interessado, em que as palavras e as ações sejam coerentes. Ser respeitado na sua opinião, ao esclarecer itens que estão sem clareza ou que não foram compreendidos, contribui para uma melhora na satisfação e interesse em realizar o trabalho que está sendo proposto e possibilitando proximidade entre o grupo. Desta forma, equipes de trabalho que mantêm esse diálogo são usualmente mais produtivas, porque acreditam e se empenham no seu fazer, ou seja, no cuidado ao paciente. Favorece a continuidade dos cuidados Além da comunicação verbal, abordada anteriormente, a comunicação escrita por meio do registro no prontuário do paciente possibilita que todos os integrantes da equipe de saúde tenham acesso às informações, favorecendo a continuidade dos cuidados prestados: [...] uma continuidade do cuidado, daquilo que a enfermeira inicia; ela faz a prescrição, o exame físico, mas quem vai continuar aquilo ali?Então o bom do processo é que ele vai continuar o atendimento, o cuidado, o que vale aquela prescrição da enfermeira dentro da pasta, qualquer dúvida qualquer mudança ambos, enfermeiro e técnico ficam sabendo [...] (e4). Os registros são um facilitador na unidade de ações sucessivas realizadas pela enfermagem, pois a cada turno, o técnico/auxiliar de enfermagem que está prestando assistência ao paciente pode ler a evolução anterior e conhecer os fatos importantes ocorridos com ele. A prescrição do enfermeiro, por sua vez, indica os cuidados que foram e deverão ser realizados, em um período de 24 horas, em prol da saúde do paciente no âmbito da enfermagem. A linguagem utilizada foi um ponto destacado como positivo pelo informante e7, sendo dominada por todos os membros da equipe. A comunicação escrita deve ter clareza e uma linguagem compreensível, permitindo a documentação.12 Logo, os registros podem ser considerados como uma forma indispensável para a continuidade do tratamento do paciente, pois por meio da documentação das etapas do PE tem-se como realizar a avaliação dos resultados, considerando a evolução do paciente e, adaptando o plano de cuidados para cada fase do tratamento. Falhas na comunicação entre a equipe de enfermagem Como já destacado, a comunicação é de suma importância para o trabalho da enfermagem. Mesmo com as transformações sociais vivenciadas, a tecnologia ainda não substituiu a necessidade de orientar pessoas para alcançarem objetivos e metas.16 Assim a comunicação é ponto fundamental para manter uma equipe de trabalho atuando de forma integrada em prol do paciente, sendo que a sua falta pode gerar insatisfação. [...] O Processo de enfermagem é positivo, porém, deve ser compartilhado com os demais membros da equipe, uma vez que os mesmos podem colaborar com informações preciosas em todos os estágios do Processo de enfermagem [...] (e1). A reflexão do informante e1 demonstra que mesmo considerando positiva a utilização do PE, ocorre falta de diálogo, de troca de informações entre a sua equipe de trabalho. Salienta, ainda, que informações úteis para o tratamento ao paciente estão sendo perdidas por essa dificuldade da equipe. [...] A enfermeira comunica as alterações na prescrição de enfermagem para dar continuidade ao cuidado, mas se não concordo com algo não tenho liberdade para falar com ela. Às vezes falta um pouquinho de receptividade porque ela vem com a coisa fechada [...] (e4). O relato do informante e4 gera alguns questionamentos: será que o técnico/auxiliar de enfermagem que não concorda com a prescrição irá realizá-la? Ou irá registrar no prontuário a sua realização, conforme prescrita, contudo irá executá-la como pensa que deve ser feita? Os registros serão fidedignos com o ocorrido durante o cuidado prestado? E os aspectos éticos envolvidos nessa situação? Em cada caso isso pode mudar, o técnico/auxiliar de enfermagem pode agir de um jeito diferente, assim destaca-se que a preocupação deve estar centrada no ponto original, que é a comunicação, somente uma conversa em que ambos possam expor suas opiniões, quando é possivel acontecer troca de experiência e até uma comprovação por evidências, poder-se-á ter uma equipe, um trabalho em grupo onde todos buscam atingir um objetivo comum. Também houve outros relatos que demonstraram essa falta de diálogo, a exemplo do informante: [...] A conduta das enfermeiras conosco poderia ser melhorada porque às vezes acontece uma certa prepotência, a palavra delas é a última [...] (e4). Além da falta de diálogo, essa fala refere que as regras são impostas. Ressalta-se a relevância do papel da enfermeira, como organizadora e coordenadora das atividades assistenciais, desenvolver algumas competências como a comunicação e liderança, competências essas incluídas nas Diretrizes Curriculares Nacionais como essenciais na formação do enfermeiro. A liderança revela o processo pelo qual um grupo é induzido a dedicar-se aos objetivos defendidos pelo líder, envolvendo empatia, responsabilidade e habilidade na tomada de decisões e comunicação.15 Assim, cabe ao enfermeiro utilizar essas competências para mobilizar a equipe em torno de um objetivo, valendo-se do potencial de todos os participantes na organização do serviço, o que contribui para a satisfação no trabalho e principalmente a melhoria na assistência ao paciente, que é o foco principal das ações de enfermagem. Necessidade de reavaliação da prescrição dos cuidados de enfermagem A prescrição de enfermagem foi um aspecto bastante comentado durante as entrevistas assim, emergindo pontos considerados problemáticos: [...] A prescrição deveria ser mais enxuta, e as rotinas não precisavam estar dentro dela (e6). A extensão das prescrições foi uma questão relatada, e que faz refletir sobre a sua ocorrência. Há cuidados que estão sendo prescritos duplamente ou de forma inadequada? As "rotinas" poderiam ser excluídas das prescrições? Contudo, é importante considerar que muitos pacientes, com tratamentos complexos, necessitam de um grande número de cuidados. Durante as entrevistas, questionou-se sobre o entendimento dessas "rotinas", obtendo a informação de que seriam cuidados prestados para todos os pacientes, como exemplo, a verificação de sinais vitais e o banho. A prescrição serve de roteiro para realização das atividades de enfermagem, além disso, ajuda no ensino dos alunos de enfermagem a tomar decisões, e a partir dela pode-se determinar o custo dos serviços prestados por enfermeiros e planejar os recursos necessários para a prática da enfermagem.17 Neste sentido, a omissão dos itens denominados "rotinas" poderia invalidar esses objetivos. Além disso, há no HCPA um grande número de estudantes, do nível técnico e de graduação, que utilizam o hospital como campo de estágio, e a prescrição de cada um dos cuidados, rotineiros ou não, auxilia na sua formação. Os relatos de auxiliares e técnicos de enfermagem convergem com a opinião das enfermeiras. Um aspecto a ser melhorado, segundo as próprias enfermeiras do HCPA, refere-se à prescrição de enfermagem ser rotineira, contendo aquilo que é padronizado e não os cuidados específicos de cada paciente. Elas alegam que os cuidados de rotina deveriam estar internalizados nos auxiliares e técnicos de enfermagem, e apenas os cuidados individuais e prioritários de cada paciente deveriam constar na prescrição, pois, espera-se que a enfermeira tenha conhecimento e uma visão mais profunda dos problemas dos pacientes.5 Essa queixa já havia sido manifestada pelo pessoal auxiliar de enfermagem do HCPA, na década de 80, alegando como uma desvantagem da prescrição de enfermagem conter as rotinas já conhecidas.6 O relato a seguir sugere fragilidades na avaliação do paciente, realizada pela enfermeira, e na atualização da prescrição: [...] às vezes acho que a prescrição é muito mecânica é colocada para repetir, às vezes é superficial (e1). Esses aspectos foram destacados em estudo realizado no HCPA, no qual as enfermeiras relataram que algumas de suas colegas prescrevem o tratamento dos pacientes sem avaliá-los previamente, ou não atualizam suas prescrições, quando necessário. Um exemplo citado refere-se a uma prescrição que continha cuidados com soroterapia quando esta já havia sido suspensa, há quatro dias.5 Esse fato demonstra que, tanto auxiliares e técnicos de enfermagem, quanto enfermeiras, percebem essa falha na prescrição. Os problemas na prescrição de enfermagem relatados por alguns informantes evidenciam dificuldades de comunicação, gerando insatisfação no trabalho. Como proposta de solução, sugere-se criar espaços de diálogo entre os membros da equipe de enfermagem onde aspectos relativos ao cuidado dos pacientes e contidos na prescrição fossem discutidos. Tags: Enfermagem; técnico de enfermagem; auxiliar de enfermagem;

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